O 'Voto Útil' na Política Democrática - Porque devemos evitar e as suas consequencias





 O Impacto e as Implicações do 'Voto Útil' na Política Democrática

Nas últimas eleições legislativas em Portugal, observou-se uma estratégia comum em sistemas políticos multipartidários: o apelo ao "voto útil". Embora pareça uma tática benéfica, a curto prazo apenas beneficia os grandes partidos como o Partido Socialista, e a longo prazo acarreta consequências devastadoras para partidos de menor dimensão, afetando assim a integridade e diversidade do sistema democrático.

Bloco de Esquerda e Partido Comunista Portugues foram os mais penalizados

Nas eleições legislativas de 30 de Janeiro de 2022, os parceiros da 'Geringonça' do Partido Socialista, que em 2015 ajudaram António Costa a derrotar o Governo PSD/CDS, foram claramente os mais prejudicados do apelo ao voto útil, principalmente o Bloco, pois passou de 19 deputados em 2015 para apenas 5 em 2022. Por seu turno, o Partido Comunista viu o seu número de deputados passar para metade, de 12 em 2015 para apenas 6 em 2022.

Além do mais, as mais recentes sondagens não se mostram favoráveis a ambos os partidos. Tanto o Bloco como o PCP estão bem atrás do CHEGA e da Iniciativa Liberal nas intenções de voto. O caso parece ser mais preocupante para o PCP, que está em claro processo de erosão na política nacional, tendo passado de terceira força política em 2005 para sexta em 2022, e não ficaríamos surpreendidos se no dia 10 de Março de 2024 o número de deputados comunistas desça ainda mais.

É demais evidente que a 'Geringonça' apenas beneficiou o Partido Socialista e o apelo ao "Voto Útil" apenas leva a uma bipolarização entre PSD e PS, limitando e reduzindo a diversidade de opiniões, bem como o enfraquecimento do papel dos partidos emergentes e dos partidos de nicho. O voto útil leva os eleitores a escolher a viabilidade eleitoral em detrimento do seu alinhamento ideológico. Parece paradoxal, mas o apelo ao voto útil em 2022 para evitar o "papão da direita" no Governo provocou na prática a erosão dos partidos à esquerda do espectro político.

O apelo do PS não foi nada mais do que uma chantagem que prejudicou toda a esquerda, enfraquecendo-a, limitando o seu poder de negociação, intervenção e visibilidade dos partidos de menor dimensão à esquerda.

A longo prazo, o voto útil gera desconfiança nas instituições políticas, já que a falta de escrutínio e diálogo leva os eleitores a sentir o sistema democrático como "viciado".

Em resumo, enquanto o voto útil pode parecer uma estratégia eficaz para garantir resultados eleitorais específicos, a longo prazo é prejudicial para a saúde da democracia. É essencial, portanto, ao exercer o nosso poder de voto, ponderar todas as consequências de um voto útil e tentar encontrar um equilíbrio que preserve a diversidade, a representatividade e a integridade do sistema político.

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